terça-feira, 5 de março de 2013

Bana, a voz que canta Cabo Verde


Bana nasceu no dia 5 de Março de 1932, na ilha de São Vicente, mas só foi registado no dia 11 de Março. Oriundo de uma família pobre e humilde, era o filho mais novo de Vasco Almeida e de Maria Cristina Gonçalves. Adriano Gonçalves, ou Bana, viveu a sua infância num dos piores períodos de São Vicente, durante a Revolta das Bandeiras Negras, numa altura em que a fome assolava a ilha do Monte Cara.

Com quase 70 anos de carreira, Bana é um ícone da cultura cabo-verdiana. Com um percurso ímpar no mundo da música, a carreira de Bana é comparável à de Cesária Évora. Se Cize dava cartas em França onde rapidamente ganhou espaço no coração dos franceses, Bana fazia o mesmo percurso em palcos portugueses, principalmente na capital, Lisboa.

Adriano Gonçalves ou simplesmente Bana cedo conquistou os mindelenses com a sua voz forte e firme. De timbre suave e ritmado, Bana canta como fala. De lenço branco na mão, a sua imagem de marca nos palcos, o músico estava longe de imaginar que esse percurso, iniciado com uma dezena de anos, o levaria a gravar quase meia centena de discos.

A relação de Bana com a música começou bem cedo, nas ruas de Mindelo. Deixou de ser Adriano Gonçalves e passou a ser conhecido por Bana no meio mindelense, a calcorrear as “tocatinas” da ilha de São Vicente. 

Aos 13 anos abandona os estudos, apenas com a 3ª classe. Já nesta altura, o interesse pela música era maior do que pelos livros. Foi na companhia dos mais velhos, Lela Maninha, Marcelo, Tchuf e Djindja de nha Amélia, Pirra e Abílio Duarte, que o Rei da Morna começou a dar os seus primeiros passos, ainda que tímidos, no mundo da interpretação musical.

Mais tarde encontrou na música um novo sentido para a sua vida, que permitiu superar a morte dos pais. Depois começou a cantar ao lado dos principais músicos cabo-verdianos, atraindo a atenção de B.Léza, considerado um dos maiores poetas e compositores cabo-verdianos de todos os tempos.

Como nem só da música vive o homem, Bana tentou durante algum tempo o trabalho duro de estivador no Porto Grande do Mindelo. O corpo, dois metros de altura, dava-lhe a força física necessária para as tarefas de carga e descarga, mas não era o que Bana queria mesmo fazer, conforme reconheceu o seu amigo e colega de estiva, Joaquim dos Santos (Taitai).

E os sons que emanavam dos vários botequins do Mindelo acabaram por seduzi-lo, o que o levou a abandonar o trabalho no Porto Grande, por nunca se sentir atraído por ele. 

Para além de ter trabalhado como estivador no Porto do Mindelo, Bana também trabalhou para a companhia petrolífera Shell, ao mesmo tempo que ia fazendo serenatas com os amigos.

Em 1952, com 20 anos, Bana ingressou nas Forças Armadas para cumprir o serviço militar obrigatório. A tropa deu-lhe a possibilidade de  interpretar de vez em quando algumas mornas na Rádio Clube do Mindelo, cantando para um público mais alargado. Por esta altura Bana já não cantava só para os seus amigos, mas sim para um público fiel à sua voz.

A primeira vez que Portugal entrou no horizonte de Bana foi em S. Vicente, pelas mãos de dois respeitados políticos portugueses. Em 1959, numa digressão por São Vicente, vários elementos da Tuna Académica de Coimbra “descobrem” Bana e insistem em dar a conhecer a Portugal aquele homem de voz timbrada e firme. Entre esses elementos da Tuna coimbrã encontravam-se Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco. No entanto, Bana só chegaria a Portugal dez anos depois, em 1969.

Pelo meio, seguiu para Dacar, onde gravou o seu primeiro disco e foi convidado para vários espectáculos. Do Senegal seguiu para Paris, onde gravou mais dois LP e onde permaneceu até 1968, altura em que seguiu para Amesterdão, Holanda, aproveitando para editar mais dois “Long Play” e dois EP.

A estreia em Portugal aconteceu em 1969, na inauguração da Casa de Cabo Verde em Lisboa, na companhia de dois dos seus amigos de sempre: Luís Morais e Morgadinho. Desde então, e paralelamente à sua própria carreira, entre Portugal e Cabo Verde, Bana abriu portas às gerações seguintes da música cabo-verdiana das décadas de 70 do século XX até o início deste século.

Começou a cantar ainda miúdo nos botequins do Mindelo. Com a sua voz firme encantou em Dacar e depois em França , antes de fixar residência em Portugal, onde atingiu o estrelato. Gravou meia centena de LP´s e viajou pelos quatro cantos do mundo a espalhar o nome de Cabo Verde. Ajudou a lançar uma dezena de músicos cabo-verdianos. "Só lhe faltou ir à Lua", disse um dia Manuel de Novas.


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