Bana nasceu
no dia 5 de Março de 1932, na ilha de São Vicente, mas só foi registado no dia
11 de Março. Oriundo de uma família pobre e humilde, era o filho mais novo de
Vasco Almeida e de Maria Cristina Gonçalves. Adriano Gonçalves, ou Bana, viveu
a sua infância num dos piores períodos de São Vicente, durante a Revolta das
Bandeiras Negras, numa altura em que a fome assolava a ilha do Monte Cara.
Com quase 70
anos de carreira, Bana é um ícone da cultura cabo-verdiana. Com um percurso
ímpar no mundo da música, a carreira de Bana é comparável à de Cesária Évora.
Se Cize dava cartas em França onde rapidamente ganhou espaço no coração dos
franceses, Bana fazia o mesmo percurso em palcos portugueses, principalmente na
capital, Lisboa.
Adriano
Gonçalves ou simplesmente Bana cedo conquistou os mindelenses com a sua voz
forte e firme. De timbre suave e ritmado, Bana canta como fala. De lenço branco
na mão, a sua imagem de marca nos palcos, o músico estava longe de imaginar que
esse percurso, iniciado com uma dezena de anos, o levaria a gravar quase meia
centena de discos.
A relação de Bana com a música
começou bem cedo, nas ruas de Mindelo. Deixou de ser Adriano Gonçalves e passou
a ser conhecido por Bana no meio mindelense, a calcorrear as “tocatinas” da
ilha de São Vicente.
Aos 13 anos
abandona os estudos, apenas com a 3ª classe. Já nesta altura, o interesse pela
música era maior do que pelos livros. Foi na companhia dos mais velhos, Lela
Maninha, Marcelo, Tchuf e Djindja de nha Amélia, Pirra e Abílio Duarte, que o
Rei da Morna começou a dar os seus primeiros passos, ainda que tímidos, no
mundo da interpretação musical.
Mais tarde
encontrou na música um novo sentido para a sua vida, que permitiu superar a
morte dos pais. Depois começou a cantar ao lado dos principais músicos
cabo-verdianos, atraindo a atenção de B.Léza, considerado um dos maiores poetas
e compositores cabo-verdianos de todos os tempos.
Como nem só
da música vive o homem, Bana tentou durante algum tempo o trabalho duro de
estivador no Porto Grande do Mindelo. O corpo, dois metros de altura, dava-lhe
a força física necessária para as tarefas de carga e descarga, mas não era o
que Bana queria mesmo fazer, conforme reconheceu o seu amigo e colega de
estiva, Joaquim dos Santos (Taitai).
E os sons
que emanavam dos vários botequins do Mindelo acabaram por seduzi-lo, o que o
levou a abandonar o trabalho no Porto Grande, por nunca se sentir atraído por
ele.
Para além de
ter trabalhado como estivador no Porto do Mindelo, Bana também trabalhou para a
companhia petrolífera Shell, ao mesmo tempo que ia fazendo serenatas com os
amigos.
Em 1952, com
20 anos, Bana ingressou nas Forças Armadas para cumprir o serviço militar
obrigatório. A tropa deu-lhe a possibilidade de interpretar de vez em
quando algumas mornas na Rádio Clube do Mindelo, cantando para um público mais
alargado. Por esta altura Bana já não cantava só para os seus amigos, mas sim
para um público fiel à sua voz.
A primeira
vez que Portugal entrou no horizonte de Bana foi em S. Vicente, pelas mãos de
dois respeitados políticos portugueses. Em 1959, numa digressão por São
Vicente, vários elementos da Tuna Académica de Coimbra “descobrem” Bana e
insistem em dar a conhecer a Portugal aquele homem de voz timbrada e firme.
Entre esses elementos da Tuna coimbrã encontravam-se Manuel Alegre e Fernando
Assis Pacheco. No entanto, Bana só chegaria a Portugal dez anos depois, em
1969.
Pelo meio,
seguiu para Dacar, onde gravou o seu primeiro disco e foi convidado para vários
espectáculos. Do Senegal seguiu para Paris, onde gravou mais dois LP e onde
permaneceu até 1968, altura em que seguiu para Amesterdão, Holanda,
aproveitando para editar mais dois “Long Play” e dois EP.
A estreia em
Portugal aconteceu em 1969, na inauguração da Casa de Cabo Verde em Lisboa, na
companhia de dois dos seus amigos de sempre: Luís Morais e Morgadinho. Desde
então, e paralelamente à sua própria carreira, entre Portugal e Cabo Verde,
Bana abriu portas às gerações seguintes da música cabo-verdiana das décadas de
70 do século XX até o início deste século.
Começou a cantar ainda miúdo
nos botequins do Mindelo. Com a sua voz firme encantou em Dacar e depois em
França , antes de fixar residência em Portugal, onde atingiu o estrelato.
Gravou meia centena de LP´s e viajou pelos quatro cantos do mundo a espalhar o
nome de Cabo Verde. Ajudou a lançar uma dezena de músicos cabo-verdianos.
"Só lhe faltou ir à Lua", disse um dia Manuel de Novas.
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