O segundo disco da dupla formada
pelo maliano Ballaké Sissoko e pelo francês Vincent Ségal é um pequeno milagre.
O som luminoso e encantatório da kora unido a um violoncelo que, nas mãos de
Ségal, ganha mil formas – flauta bucólica, orquestra magrebina, zumbido
avassalador. Dois homens em conversa longa e frutuosa enquanto a noite avança
num terraço de Bamako. Admirável e comovente. De um génio admirável, de uma
humanidade desarmante.
O som cristalino e fluído da kora
acompanhado das cordas percutidas do violoncelo. A kora que cresce numa cascata
de notas, que serena o ritmo para que nos recostemos de olhos nas estrelas
imaginadas, maravilhados. O violoncelo que há-de soar como uma flauta poderosa,
como orquestra magrebina imponente, como contrabaixo que se enlaça nas cordas
luminosas da kora.
A tradição cultural mandingo (aquela a pertence Ballaké
Sissoko) a transformar-se em música de câmara em Prélude, a imaginar solo
brasileiro em Passa Quatro (nome
da localidade brasileira, em Minas Gerais, que inspirou a melodia a Vincent
Ségal), os Étoile de Dakar de Youssou N’Dour, a lenda musical senegalesa,
homenageados em Super Étoile,
o tom grave do zumbido, criado no violoncelo, que sobrevoa Balazando,
e a voz de Babani Koné, a grande cantora maliana, que agracia Diabaro –
foi por ela, e por respeito a ela, que tanto queria gravar com o duo, que
Ballaké e Vincent acederam a trocar o terraço por um verdadeiro estúdio. “Não
podíamos recusar tê-la no álbum e não a podíamos pôr a cantar no terraço, seria
estranho”, explica Ségal. “‘Somos músicos profissionais, porquê gravar aqui e
não no estúdio?’, diria ela”. Talvez Babani não compreendesse, mas Ballaké e
Vincent Ségal não quereriam – não poderiam – fazer Musique de Nuit de outra
maneira.
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